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Cumaru: protegendo a selva um feijão de cada vez

Quando pensas na floresta amazónica, provavelmente pensas em árvores. Pensas numa imensa variedade de aves e vida selvagem: jaguares, antas, macacos e um sem número de insetos. Talvez penses em desflorestação? Nos últimos anos, o alerta para a desflorestação da Amazónia tem sido mais alto do que nunca e cada vez somos mais conscientes desta catástrofe.

Mas provavelmente nunca pensarás no doce feijão de cumaru, e muito menos nos gelados, nos doces e nos perfumes que os incluem. No Brasil, no meio da floresta amazónica, comunidades indígenas cultivam este feijão aromático. Não só é uma fonte de rendimento como ajuda a proteger a selva das indústrias mineiras, da madeira e da criação de gado que ameaçam a Amazónia todos os dias.

Os feijões de cumaru são o fruto da árvore de cumaru (uma árvore da família das leguminosas) que pode atingir os 30 metros de altura e podem ser utilizados para comida, cosmética ou produtos farmacêuticos. Para além disto, o cultivo de cumaru não é destrutivo, podendo crescer ao lado de uma grande variedade de plantas e vegetação. Ao colher e secar estes feijões, as comunidades indígenas têm acesso a uma fonte extra de rendimento ao mesmo tempo eu ajudam a regenerar e a proteger a selva amazónica.

A Amazónia é a maior selva do fundo abrangendo o território de 9 países, dos quais 60% pertencem ao Brasil. Milhões de pessoas, especialmente comunidades indígenas, obtêm da Amazónia a sua subsistência, de comida a recursos passando por medicinas. Apesar da importância deste território, nos últimos 40 anos pelo menos um quinto da selva amazónica foi dizimada pela desflorestação. Há legislação e medidas governamentais para proteger o território (desde 2004 que o ritmo da desflorestação abrandou), mas a vigilância pelo cumprimento das regras pode ser fraca e, em 2019, o mundo assistiu em choque enquanto a Amazónia ardia. 

É nas áreas mais densas da floresta que encontramos estas comunidades indígenas; aqui, o mundo exterior está proibido de entrar. No Brasil, os territórios indígenas são áreas protegidas, o que significa que os indígenas têm o direito permanente e exclusivo de habitar as suas terras. Legalmente, o acesso a território indígena tem de ser autorizado pelo governo federal e não é permitido qualquer tipo de indústria de modo a proteger o ecossistema na sua totalidade.

“Os territórios indígenas são consideravelmente mais ricos que os territórios não protegidos”, conta-nos Lívia Froés, da equipa de compras da Lush. “Fora do território não protegido, não encontras a Amazónia, mas sim vastas plantações e monoculturas. Quando passas a fronteira de um território a outro a diferença é abismal. O território indígena começa quando começam as árvores.”

“As leis federais que protegem os territórios indígenas evitam que as plantações de soja e outras monoculturas cresçam e cresçam”, continua. “Esta proteção é como um escudo. Ninguém pode chegar e cortar uma árvore e apenas as comunidades indígenas legais podem viver nestes territórios”.

No entanto, num território tão vasto garantir que as leis são cumpridas é difícil e as ameaças às comunidades indígenas e aos seus territórios continuam a aumentar: desde o abate ilegal de árvores até à exploração de ouro, passando pela construção de barragens hidroelétricas e conflitos políticos.

Para mitigar estas ameaças, uma série de associações não governamentais trabalha com as comunidades indígenas para que possam proteger as suas terras.

“As comunidades indígenas são a garantia de futuro do Brasil e do mundo”, conta-nos Adriano Jerozolimski, da Associação Floresta Protegida. “No Brasil, há 252 indígenas com um uma diversidade de conhecimentos incríveis sobre a floresta, os rios e formas de organização que já estão a inspirar o próximo passo na organização das comunidades locais e na sociedade global.”

“Ao analisarmos as porções de floresta e de rios que estão preservadas, é muito fácil concluir que onde há comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais, há floresta! O papel destas comunidades em conservar e até mesmo em aumentar a biodiversidade, é essencial”, continua.

Uma estratégia importante é ajudar as comunidades indígenas a ter acesso aos mercados para comercializar os seus produtos não madeireiros produzidos de forma sustentável. Desta forma, ganham uma fonte de rendimento essencial para adquirir os bens manufaturados dos quais dependem depois do contacto com o mundo exterior. As ONG desempenham um papel fundamental neste processo, não só no acesso aos mercados, mas também a explicar a cultura capitalista da sociedade e a natureza das ameaças que enfrentam.

Uma fonte de rendimento sustentável, como a proveniente do cumaru, combinada com informação e apoio ao monitoramento e à vigilância territorial tem sido a chave para a persistência de territórios e culturas indígenas dentro da vasta área do amazonas brasileiro.

O cumaru da Lush provém de diferentes comunidades ao longo do rio Xingu, no sudeste da Amazónia brasileira, uma área importante para a biodiversidade no Brasil. Como explica Lívia, ao encorajar o comércio regenerativo na região estamos a preservar as comunidades indígenas e a selva amazónica.

“O Parque indígena de Xingu é um forte indicativo da diversidade ambiental do amazonas brasileiro. Constitui um dos conjuntos mais extensos de áreas protegidas interligadas do mundo. Tem uma enorme diversidade ambiental, onde assistimos à transição de dois biomas (o cerrado e o amazónico) com centenas de paisagens e abrigando várias comunidades com diferentes culturas e línguas.”

São as comunidades de Kayapo que fornecem o cumaru à Lush e são representadas por três ONG: Associação Floresta Protegida, Instituto Kabu e Instituto Raoni. Estas ONG, em conjunto com outras comunidades tradicionais da região do rio Xingu, trabalham numa inovadora parceria de certificação de origem liderada pela Imaflora e denominada Origens Brasil. A venda de cumaru, que é recolhido do solo na época seca (entre junho e setembro) revelou-se uma importante fonte de rendimento.

Depois de cair da árvore, o cumaru é apanhado do solo e levado até à aldeia onde é partido com um martelo para retirar os preciosos feijões. São secos ao sol, onde adquirem um tom castanho. No fim, estes doces feijões, com um picante aroma abaunilhado, são armazenados localmente até serem embalados e enviados para o Reino Unido.

Ao comprar diretamente a estas comunidades, a Lush evita a gestão de terceiros que levam parte dos lucros. E ainda mais! A Lush paga um adiantamento pelo cumaru, em vez de esperar até que a matéria prima seja embalada e enviada. Desta forma, as comunidades recebem o dinheiro o mais rápido possível e são incentivadas a continuar com a produção de cumaru e a cultivar a floresta. Por isso, quando desfrutares da doçura do cumaru no teu produto favorito, estarás também a apoiar o comércio regenerativo e sustentável na Amazónia.

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